"Venceremos compañeros y viva México!"
A convite do governo mexicano, a Internacional Progressista enviou uma delegação de alto nível para assistir à tomada de posse da Presidente Claudia Sheinbaum, incluindo Jeremy Corbyn (Reino Unido), Andrés Arauz (Equador) e Gerardo Pisarello (Espanha). Para assinalar a ocasião, publicamos o discurso de Corbyn no Seminário Internacional do Partido dos Trabalhadores do México, apresentado aos distintos membros da coligação governamental e a delegados internacionais de todo o mundo.
Caros amigos,
É uma grande honra ser convidado pelo Partido dos Trabalhadores (PT) para este impressionante Congresso e fazer parte do grande grupo de delegados internacionais que observam as mudanças políticas no México.
Acredito que todos nós viajámos até aqui por três razões principais — as três grandes crises que ameaçam o nosso mundo e desafiam as forças progressistas que esperam moldá-lo.
A primeira é a guerra: a ameaça cada vez maior de um conflito internacional e o que isso significa para milhões de populações vulneráveis, da Palestina ao Sudão.
A segunda é a desigualdade: a explosão da desigualdade de riqueza entre aqueles que viajam pelo mundo e aqueles que mal conseguem pagar o aquecimento.
E a terceira é o desempoderamento: como as nossas economias e a nossa política são concebidas para fazer com que certas pessoas se sintam invencíveis e que outras sintam que não têm qualquer valor no nosso sistema democrático.
Cada uma destas crises exige que trabalhemos juntos — deste seminário às semanas e meses que se seguem — numa frente global: um novo tipo de Internacional que reúna partidos, sindicatos e movimentos de todo o mundo.
E este esforço — para fortalecer uma Internacional Progressista — começa aqui, no México, onde temos tanto a aprender com a forma como o MORENA e o PT reagiram a cada uma destas crises globais.
Envio as minhas mais sinceras felicitações à Claudia Sheinbaum pela sua eleição como Presidente do México, uma grande vitória para uma política de continuação na redução da pobreza e de um aumento das oportunidades de todas as comunidades da classe trabalhadora.
E expresso a minha gratidão a Andrés Manuel López Obrador pela sua presidência, por ter tirado 5 milhões da pobreza e por dedicar todas as horas do dia a corrigir a crise de desigualdade económica, social e política deste país. A sua Mañanera diária é uma lenda global e conseguiu estabelecer uma agenda política todos os dias, em vez de permitir que a comunicação social hostil o fizesse.
Estive aqui em 2006 para me juntar aos protestos contra a fraude histórica cometida nessa eleição presidencial contra Andrés Manuel, voltei novamente para me juntar a esses protestos em 2012, e finalmente para partilhar a alegria da grande vitória em 2018. Essa vitória — e o resultado ainda mais forte entregue ao MORENA nas eleições deste ano — marcam um grande triunfo não só para a esquerda do México, mas também para a esquerda internacional em geral.
Num mundo de necessidades desesperadas — pela redistribuição de poder e riqueza e pela criação de uma sustentabilidade ambiental — estamos, em vez disso, assolados pela guerra.
Há pelo menos 43.000 mortos em Gaza, enquanto Israel lança bombas em contravenção tanto do direito internacional quanto da humanidade. E agora Israel estende a guerra ao Líbano com uma destruição massiva de Beirute e uma enorme perda de vidas.
Não esqueçamos a ocupação da Cisjordânia e os colonatos que retiram continuamente a terra e a água aos agricultores palestinianos. Há gerações na Cisjordânia que nunca conheceram nada além da ocupação; os refugiados na Jordânia, no Líbano e na Síria nasceram num exílio forçado.
Apesar das exigências generalizadas, foi recusada uma cessação de hostilidades. Israel, agora com a intenção de ocupar grande parte do Líbano, só pode aumentar a propagação da guerra e envolver outros países. Netanyahu usou o seu discurso na ONU, um lugar para a paz, só para anunciar mais guerra e destruição.
As enormes manifestações em todo o mundo em apoio à Palestina estão a exigir um cessar-fogo e o fim do fornecimento de armas a Israel por parte dos EUA e dos países europeus, incluindo a Grã-Bretanha. Sem este fornecimento de aviões e bombas, Israel não poderia continuar o massacre.
No Reino Unido, estamos prestes a realizar a nossa décima quinta manifestação nacional e a fazer novas exigências ao Governo do Reino Unido para que pare o fornecimento de armas e o uso de bases militares britânicas no Chipre para promover os objectivos de guerra de Israel.
Precisamos de ainda mais manifestações pelo mundo fora para tentar acabar com a guerra — e também reconhecer que há pessoas corajosas em Israel que também se opõem à guerra.
Essas manifestações devem pedir paz não só em Gaza, mas em todos os países hoje assolados por conflitos internacionais e civis.
Na Ucrânia, a guerra está a custar milhares de vidas de soldados ucranianos e russos, que foram recrutados. Devemos reconhecer que a invasão da Ucrânia foi errada e ilegal, e também que a guerra só pode terminar por uma negociação liderada pelas Nações Unidas ou por um grupo de líderes políticos da África e da América Latina, numa tentativa renovada de paz.
Entretanto, as guerras no Sudão e no Congo estão a custar milhares de vidas, guerras essas alimentadas por uma combinação fatal de extracção de minerais e vendas de armas por parte de fabricantes americanos e europeus.
Todos nós devemos trabalhar juntos nesta nova Internacional Progressista. A esquerda é e deve ser um movimento pela paz e pela justiça social e económica, e deve reunir as várias forças que defendem estes mesmos princípios.
É por isso que precisamos da união das forças de esquerda a um nível global, e por isso precisamos — como a Internacional Progressista endossou — de uma Nova Ordem Económica Internacional. Essa Nova Ordem Económica Internacional insiste no empoderamento do Sul Global face às exigências globais das maiores empresas e às questões ambientais muito óbvias com que lidamos, afectando principalmente as pessoas mais pobres.
Quando o racismo está a aumentar — como está na Europa e na América do Norte, com partidos de extrema-direita a culpar as vítimas da violência pelos crimes do neoliberalismo — a esquerda deve pronunciar-se.
Qualquer compromisso com a direita racista só ajuda a fazer com que esta cresça. Os partidos de esquerda e as organizações da classe trabalhadora precisam de estar unidos e determinados a defender um mundo de justiça social e paz.
Só podemos alcançar isso trabalhando e fazendo campanha juntos, e acima de tudo, apoiando-nos mutuamente nas reivindicações salariais e na proteção dos direitos.
A nossa conferência aqui na Cidade do México é um exemplo da confiança que vem da união e da determinação da visão do tipo de mundo em que podemos viver, e da esperança advinda de pessoas de todo o mundo em solidariedade.
Obrigado pela honra do meu convite; para enfrentar a crise, que os mais pobres e vulneráveis enfrentam, precisamos de confiança, união e inspiração.
Venceremos compañeros y viva México!
Jeremy Corbyn
Jeremy Corbyn é deputado do Parlamento Britânico eleito como candidato independente pelo círculo de Islington North, é ex-líder do Partido Trabalhista britânico, do qual foi expulso pela ala centrista, atlantista e liberal que actualmente o lidera.
Fonte: Progressive International