O Escândalo do Desperdício Militar na Final da Taça de Portugal
A recente utilização de meios militares na final da Taça de Portugal voltou a levantar uma questão que, em tempos de dificuldades económicas e sociais, não pode ser ignorada: faz sentido gastar mais de 30 mil euros do erário público em caças F-16, helicópteros Lynx, militares e viaturas para um espetáculo de futebol?
Segundo estimativas médias, cada hora de voo de um helicóptero Lynx custa entre 3.000 e 4.000 euros, enquanto um caça F-16 ronda os 7.000 a 10.000 euros por hora. A estes valores acrescem ainda despesas de logística, pessoal e transporte de viaturas. No total, a presença militar na final da Taça terá custado entre 25.000 e 30.000 euros: um valor que, para muitos portugueses, representa mais do que um salário anual.
Num país onde milhares de estudantes lutam por bolsas de estudo, onde escolas públicas precisam de computadores e onde instituições de solidariedade social sobrevivem com orçamentos mínimos, este gasto é um verdadeiro escândalo. Com o valor dispendido apenas nesta exibição militar, seria possível financiar 15 bolsas de estudo anuais, adquirir 40 computadores portáteis para escolas, apoiar meses de trabalho de uma instituição social ou garantir mais de 10.000 refeições escolares.
Não está em causa o papel fundamental das Forças Armadas na defesa nacional e na promoção de valores cívicos. O que está em causa é a prioridade dada ao espetáculo face às necessidades reais do país. Num contexto de dificuldades, cada euro gasto deve ser criteriosamente ponderado e justificado. O uso de meios militares em eventos civis deve ser excecional, transparente e sempre sujeito a escrutínio público.
Por isso, é legítimo que se exija ao Ministério da Defesa Nacional a divulgação do custo real desta operação, a explicação dos critérios que justificaram tal despesa e o compromisso de maior transparência na afetação dos recursos públicos. Só assim se pode garantir a confiança dos cidadãos nas instituições e assegurar que o dinheiro de todos serve, de facto, o interesse público.
É tempo de repensar prioridades. O futebol é paixão nacional, mas não pode ser desculpa para o desperdício. Porque o dinheiro público deve ser investido onde mais faz falta: e não em espectáculos de vaidade.
Mensagem enviada ao Ministério da Defesa Nacional.