Edições Libertária
Fevereiro de 2022
Parece ter sido há uma vida que fundamos a Libertária como mera revista socialista democrática de inspiração libertária, e o incómodo que foi em quem nos recebeu esse pequeno pormenor de insistirmos na etiqueta de libertários indo beber ao Partido Socialista Português fundado em 1875 por José Fontana, Azedo Gneco, José Correia Nobre França e José Tedeschi e tentando recuperar o legado que o Partido Socialista assumira como seu em 1975, quando se pregava ainda a autogestão e o socialismo libertário era uma corrente interna com algum vigor.
A passo firme fomos cativando colaboradores, idealizando já a colecção Biblioteca Socialista que teimava em não ver a luz do dia, reunindo frustrações até concluirmos que urgia a necessidade de se criar algo novo no mercado literário nacional, uma nova chancela assumidamente politizada na era da cobardia apolítica que desse a conhecer não só os clássicos do socialismo libertário como autores fundacionais do socialismo democrático que passados quase 50 anos desde a restauração a democracia em 1974 são ainda inéditos em Portugal ou estão há muito fora de circulação ou limitados a círculos muito restritos de meros coleccionadores. E não, já não somos um projecto partidário.
Subvenção popular e voluntarismo
Claro está que vivendo em plena distopia do capitalismo triunfante, que demonstra todos os indícios de se encaminhar alegremente para um novo autoritarismo descarado com parca ou inábil oposição, não seria possível criar uma nova chancela editorial sem um fundo de maneio. Aproveitando o ímpeto do crowdfunding (subvenção popular na nossa livre tradução) que organizamos por ocasião do lançamento do 4º número da revista Libertária e achamos que era a altura. Alguns de nós abdicaram voluntariamente dos subsídios de Natal e férias, outros doaram o que puderam e outros ainda enviam-nos um donativo mensal por via Patreon, o suficiente para em Fevereiro de 2022 darmos início à nossa actividade editorial, discretamente subversiva.
Tradutores, revisores, paginadores e até autores são todos autênticos colaboradores deste projecto, no sentido em que colaboram todos e em igual medida podem intervir e decidir para onde rumamos, não no eufemismo capitalista que o emprega para se furtar ao termo trabalhadores, operariado e precariado. Nenhum de nós retira daqui um ordenado, sendo o objectivo que em 2022 a Libertária se consiga tornar viável como projecto editorial autossuficiente.
Edições copyleft que não esgotam
A nossa intenção é que os nossos livros sejam editados com uma Licença Creative Commons Atribuição Compartilha Igual CC BY-SA 4.0, permitindo assim a sua livre reprodução desde que o autor e o editor (Libertaria.pt) sejam citados e a integridade do texto ou das partes utilizadas seja respeitada. Leram bem, ao contrário do que é comum na lógica mercantilista do mercado livreiro nós permitimos que os nossos leitores copiem livremente os nossos livros. Claro está que no caso dos autores ainda vivos estes têm obviamente a última palavra.
Estando perfeitamente cientes que as editoras nascem, vivem e morrem, julgamos que transformar as nossas obras em domínio público logo à partida é a melhor garantia de que estas nos sobrevivem, seja no limbo da Internet ou a na boa vontade e voluntarismo de outros que as queiram reeditar quando já cá não estivermos. Fora isso, e fugindo ao elitismo das edições limitadas destinadas a coleccionadores, a mais das vezes sempre os mesmos, estamos a tentar aproveitar em pleno a tecnologia print on demand que nos permite aumentar ou diminuir as tiragens ao gosto da procura. Na mesma lógica e querendo chegar ao maior número possível de pessoas comuns, além da nossa própria loja online estaremos à venda nos portais Wook/Bertrand para venda online.
Fuga para o campo e autossuficiência
Nascida na Amadora, cidade proletária, a Libertária procura ser autossuficiente pelo que obteve uma pequena parcela de terreno no distrito de Santarém onde nos encontramos nós mesmos a construir a maior parte das nossas instalações. É um projecto ambicioso, lento, burocrático e trabalhoso, mas que se tem tornado cada vez mais comum em Portugal e que a nível pessoal para alguns de nós se tornou em objectivo de vida.
Da revista e do portal
A periodicidade da Libertária como revista física foi sido errática, visto ser criada ao sabor do tempo livre dos autores que nesta aceitaram escrever, do paginador e do editor. Na reestruturação que levamos a cabo pouco iremos alterar na revista impressa visto ser um modelo obsoleto que acaba mais por ser um mimo para os nossos patronos e colaboradores do que uma publicação de grande alcance, mas vamos dinamizar muito mais o nosso portal, transformá-lo antes de mais na publicação digital diversificada que sempre tencionamos e não no mero portal estático de uma editora. [Em Fevereiro de 2023 optamos por deixar de publicar a edição em papel].
Plena profissionalização como cooperativa
Claro está, se é certo que em 2022 trabalhamos todos alegremente como voluntários para assegurar a viabilidade do projecto dando-lhe um bom impulso inicial, o objectivo é consolidar-nos como cooperativa de trabalhadores assalariados. Já não acreditamos ser possível derrubar o sistema, mas é possível viver fora deste e da sua lógica. Vamos editar livros invendáveis escritos por autores infrequentáveis, contamos ser a primeira editora a ser directamente financiada pelos seus leitores.
Qualquer órgão de comunicação social alternativa ou de massas pode saciar a sua curiosidade contactando-nos pelo libertariapt [arroba] gmail.com, adoramos entrevistas escritas.
Agrada-lhe o que estamos a fazer? Compre os nossos livros e revistas ou torne-se nosso patrono, 2€ fazem toda a diferença!